segunda-feira, 26 de abril de 2010

A SAÚDE EM BELO MONTE


A discussão em pauta no momento é sobre a construção de uma usina hidrelétrica em Belo Monte – PA, onde se pretende construir a terceira maior hidrelétrica do mundo. Este projeto vem sido debatido desde 1975, e já sofreu várias alterações desde a sua concepção original. As questões mais polêmicas estão relacionadas a alteração no escoamento do rio Xingu e a inundação permanente de igarapés de Altamira e Ambé, que cortam a cidade de Altamira. Frente a isto tudo, fica o questionamento: qual o real impacto da construção da tal hidrelétrica na saúde os indivíduos que lá vivem, principalmente nos quesitos relativos a mudanças culturais e de adaptação?
Os defensores da construção apontam para a questão econômica: os preços mínimos de magawatts / hora entre energia gerada por hidrelétricas – mais barata, quando comparadas as geradas por usinas eólicas e a gás são o principal argumento para justificar a construção de Belo Monte. De outro lado, temos observações como do bispo austríaco Erwin Krautler, que considera o empreendimento um risco para os povos indígenas, devido as alterações ambientais que podem levar a falta de água, devido ao desvio do curso do rio para a alimentação de barragens e movimento de turbinas. Alterações culturais também vão ocorrer, devido a migração que acontecerá durante a construção, que poderá levar a população de Altarmira a se duplicar.
Enquanto alguns argumentam defendendo interesses econômicos, e outros defendem os interesses do ecossistema e da cultura dos povos que lá vivem, reforço o questionamento: qual o real impacto da construção da tal hidrelétrica na saúde os indivíduos que lá vivem? A saúde não pode ser entendida apenas como algo limitado ao corpo e individual. Saúde envolve o ambiente onde o ser vive, e como este se estrutura e se organiza. Saúde também é cultura. A saúde merece ter uma atenção centrada na comunidade, a qual é vista e entendida a partir do seu ambiente físico e social. Essa prática propicia uma compreensão ampliada do processo saúde-doença e da necessidade de intervenções que vão para além das práticas curativas. Quanto mais preservada é a cultura de um lugar, mais saudável é seu povo, pois não necessita deixar de se adaptar as mudanças esperadas para ser submisso a mudanças radicais. Por anos os povos que lá vivem se adaptaram, criando condições favoráveis frente as adversidades naturais e previsíveis. O que querem fazer com a comunidade que lá vive é uma a imposição de uma mudança fora dos padrões naturais, e submeter este povo a esta, em troca de economia na produção de energia. Até que ponto vale economizar em energia (usar a hídrica ao invés de outras), se o preço da economia vem avalizado pelo comprometimento ambiental e cultural de uma região?
A quem diga que a chegada da usina irá melhorar a qualidade de vida de Altamira, pelo remanejamento da população que vive em palatifas para moradias bem estruturadas, além da geração de empregos. Mas a questão é: estes empregos serão destinados aos moradores locais, ou serão destinados aos que virão de fora, mais qualificados e preparados para os trabalhos solicitados?
Diante de tudo que foi exposto, temo que a comunidade que lá vive adoeça, e conseqüentemente os indivíduos que a compõe. Pois ocorrerão muitas mudanças de ordem ecológica, cultural e social, que vão afetar diretamente o modo de viver daquela população, que vive lá faz tempo. População esta que vem se adaptando a natureza a séculos, e que agora corre o risco de ser submetida a mudanças que dificilmente terão condições de se adaptar...
Pois bem, quem vai pagar a economia gerada por Belo Monte? Quem vai bancar a vida saudável dos que lá se instalarem? Fica a reflexão.