quinta-feira, 22 de abril de 2010

Medicalização das Relações


É de se impressionar a quantidade de pessoas que se submetem a tratamentos farmacológicos para recuperar o bem estar emocional, abalado seja pela depressão, ansiedade ou outro mal. Em uma sociedade cada vez mais materialista e imediatista, o uso dos medicamentos para recuperar a saúde emocional surge como alternativa viável e oportuna – mas vale ressaltar que intervenção esta se limita a algumas causas e alguns fatos isolados que origina o problema, desconsiderando tantos outros relacionados a saúde do ponto de vista integral.
Conheci certa vez uma pessoa que estava numa fase de "apoio químico". Sentia-se extremamente bem com o tal comprimido prescrito pelo médico. Se sentia mais forte frente aos embates da vida, apesar de achar que em alguns momentos "esquecia" ou ficava indiferente frete aos mesmos. Percebi então que o fato desencadeante do problema dele estava ainda ali presente, e que a situação estava apenas maquiada. E que tal fato desencadeante estava na forma como esta pessoa conduzia suas relações pessoais.
A intervenção medicamentosa - que ressalto como sendo importante em algumas ocasiões - não elimina alguns fatos que desencadeiam o problema de saúde. As pessoas necessitam ter consciência que a saúde envolve outros aspectos, como o ambiente em que vive, incluindo as relações e a forma como relacionamos com os mais próximos, e a maneira de como estes se relacionam conosco.
Que a convivência humana não é fácil, ninguém descorda, e que ninguém quer ficar sozinho, também não se discute - salvo as exceções. O fato é que as relações podem ser determinantes da nossa saúde considerando o ponto de vista relacional. Muitas pessoas acabam por ter dificuldade de viverem juntas, e acabam somatizando este problema seja em si própria, seja no semelhante. As relações de hoje em dia vem se tornando tensas, superficiais. Fenômeno associado a uma cultura cada vez mais individualista e competitiva, que busca o sucesso a toda prova. Um dos piores vícios que uma relação pode ter, e que é tema deste texto, é o da chantagem emocional . Trata-se de um dos piores porque busca a realização não pela conquista ou convencimento, mas sim pela pressão, pelo temor, pela chantagem. Não se conquista, se aprisiona o ser.
O mecanismo maléfico da chantagem emocional fundamenta no despertar da culpa no outro, para obrigá-lo a fazer o que ele não gostaria de fazer. Ferramentas como diálogo e negociação não entram neste tipo de relação. O ser, acuado, e com sentimento de reprovação, acaba cedendo e fazendo o jogo chantagista. Aqui cabe uma reflexão sobre saúde emocional: A quem cabe uma sentença de culpa? Considerando culpa como uma reavaliação de um comportamento passado, tido como "reprovável", penso que seja, antes de tudo, coisa intima, de cada um, e que não deva ser sentenciado por outrem. Caso exista alguma responsabilidade sobre algum atitude, que ele seja julgado e sentenciado da maneira adequada. Agora, o sentimento de culpa deve ser respeitado em sua intimidade, e nunca trazido a tona para realizar ameaças ou outras atitudes reprováveis.
O problema do chantagista é que ele toca nesta ferida intima, além de dar contornos desagradáveis ao fatos. A vitima, para aliviar este sentimento negativo, cede... daí a saúde emocional, saúde social e até a física fica comprometida.Diante de um chantagista emocional, a apatia acaba sendo a melhor forma de reagir. E necessário ter a consciência de que ele quer é despertar sentimentos de culpa e outros sentimentos negativos. Nunca se deve dar este direito a outrem. O julgamento e a conclusão sobre uma conduta inadequada e que gere sentimento de culpa, é só da própria pessoa e de mais ninguém!
Todas estas questões serve para fazer uma ligação com o assunto que iniciou o texto. Pessoas estão adoecendo por que não estão conseguindo relacionar saudavelmente com os outros, ou convive com pessoas de difícil convivência. Não estão aprendendo a relacionar melhor, e a crescer nos relacionamentos, apenas tomam pílulas e maquiam a realidade.
O consumo cada vez mais crescente de medicamentos para depressão e ansiedade traz consigo uma reflexão: será que as pílulas da felicidade são o melhor caminho para se viver bem? E o crescimento pessoal e espiritual? E para finalizar, vale outro questionamento: o que ando fazendo para a minha saúde, dentro das dimensões física, emocional, social, intelectual e espiritual? Pensar pode ser um ótimo remédio.

Nenhum comentário: