sábado, 5 de fevereiro de 2011

PROMOÇÃO A SAÚDE, O AMBIENTE E MEDICALIZAÇÃO DA SAÚDE.






No ano de 1974, o termo Promoção da Saúde apareceu pela primeira vez como conceito (MacDonald, Bunton, 1995) em um documento oficial chamado de ‘Informe Lalonde’, assim denominado em alusão ao então ministro da saúde do Canadá, Marc Lalonde (Draper, 1995 apud Buss, 2003). Este documento foi determinante na divulgação de um novo conceito de ‘campo da saúde’, que se opunha à perspectiva tradicional, intimamente associado à medicina, vista até então como fonte de todos os avanços na saúde , juntamente com as intervenções medicamentosas entre outras intervenções tecnógicas em saúde. Com base neste novo conceito de ‘campo da saúde’, fomentou-se a discussão sobre a necessidade de se analisar de modo mais abrangente as causas e os fatores predisponentes de doenças e problemas de saúde, o que ajudaria a delinear ações e estratégias que extrapolassem o sistema de saúde.

O novo conceito de ‘campo da saúde’ nivelava os elementos da biologia humana, do meio ambiente e do estilo de vida em grau de importância semelhantes para um sistema de saúde propriamente dito. A aplicação desse conceito significava que as respostas aos problemas de saúde deveriam ser buscadas no conjunto dos quatro elementos constitutivos do campo e não isoladamente. No entanto, a partir da análise das principais causas de morte no Canadá, em 1971 os elementos constituintes do ‘campo da saúde’, o meio ambiente e o estilo de vida mereceriam destaque maior no Informe Lalonde (Restrepo, 2002), conforme se evidencia no trecho a seguir:

“Os riscos auto-impostos e o meio ambiente são os fatores principais ou pelo menos importantes entre as cinco maiores causas de morte de 1 a 70 anos de idade; [assim] só se pode concluir que, a menos que o meio ambiente seja modificado e que os riscos auto-impostos sejam diminuídos, as taxas de morte não serão significativamente reduzidas” (Lalonde, 1974, p.15).
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Figura 1 -MEIO AMBIENTE E SUA REPRESENTAÇÃO SOCIAL

A questão ambiental na saúde aponta para uma intervenção mais ampliada da mesma, considerando seus vários aspectos. Vale ressaltar que o meio ambiente não deve ser relacionado apenas as questões ecológicas, mas também em sua representação social. Marcos Reigota, define esta representação social como sendo o lugar determinado ou percebido, em que elementos naturais e sociais presentes estão sempre em relações dinâmicas e em interação com a realidade, construindo desta forma processos culturais, tecnológicos e processos históricos e sociais de transformação do meio naturalmente construído (figura 1). Ou seja, o ambiente é constituído de aspectos que são determinantes no meio, além de promover sua transformação. Tal transformação pode trazer implicações diretas para a saúde dos indivíduos que constituem este meio, sendo necessário racionalizar as ações sobre o ambiente a fim de evitarem-se danos.
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Figura 2 - CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE

No Brasil a questão da saúde e do ambiente também esta presente no conceito de saúde adotado neste país a partir da VIII Conferência Nacional de Saúde de 1986. Nesta conferência a saúde foi definida como sendo um processo resultante das condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde (figura 2). Destaca-se também na Lei 8080/90, que em seu Artigo 3º , inclui o meio ambiente como determinante da saúde.
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Um processo cultural de medicalização da saúde pode levar a uma comunidade a se preocupar menos com o ambiente, com a qualidade do ar ou da água, ou com a existências de areas de lazer e ocupação, visto que existirá um agente medicamentoso que poderá reverter os sintomas adversos. A falta de organização social, visando preservar um ambiente útil ao lazer, ou a construção de espaços para tal finalidade pode porque não comprometer a saúde mental de uma comunidade, deixando – os mais suscetíveis a intervenções farmacológicas e a dependência dos mesmos.

Percebe-se então que a construção de um processo de promoção a saúde envolve a participação de vários saberes, e que a questão ambiental, juntamente com a sua representação social não pode ser desconsiderada. A priorização de um ramo do saber cria vieses reducionistas, como a adoção do modelo biomédico, que reduz o homem a apenas uma maquina corporal, passível de troca de peças de reposição, cujo insumo principal de atuação é o medicamento. Cria-se o fenômeno do Homem – Medicamento – Saúde, totalmente desconectado do ambiente e das conseqüências deste na sua saúde.

Luciano Henrique Pinto

ALGUMAS REFERENCIAS CONSULTADAS

BUSS, P.M. Uma Introdução ao Conceito de Promoção da Saúde. In: Czeresnia, D., Freitas, C.M. (orgs.). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Editora da Fiocruz, 2003.

REIGOTA, M. Meio Ambiente e Representação Social. 7º Edição. São Paulo: Cortez, 2002, 88 p.

RESTREPO, H.E. Conceptos y Definiciones: Promoción de la Salude: como construir vida saludable. Bogotá. Editorial Médica Internacional, 2002.